Ex-PM condenado no caso Amarildo financia projeto militar para crianças

O ex-policial militar Douglas Roberto Vital Machado, condenado em 2016 e expulso da PM pela morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, financia um projeto militar para crianças em São Gonçalo (RJ). Menores de 7 a 15 anos que participam do projeto "Praça Mirim" usam fardas semelhantes às da Polícia Militar, entoam hinos da corporação e passam por treinamentos militares. Na sexta-feira (14/7), o desaparecimento de Amarildo completou dez anos. Apesar de ter sido expulso da Polícia Militar e condenado a onze anos de prisão, Vital continua frequentando eventos da corporação e recebe o apoio do 7º batalhão, de São Gonçalo, para seu projeto. O secretário de Polícia Militar, o coronel Luiz Henrique Marinho, disse à coluna que desconhece a iniciativa. Marinho afirmou que vai abrir uma apuração sobre a ligação do batalhão com o projeto do ex-PM condenado e expulso da corporação pela morte de Amarildo. Em uma rede social, Vital afirma que o projeto é financiado com recursos de seu restaurante, o Macaco Steakhouse, também em São Gonçalo. “Meus negócios vão muito além do entretenimento e do lazer para adultos”, diz o ex-PM em uma publicação em uma rede social. No Praça Mirim, as crianças passam por treinamentos intensivos instruídos por policiais militares. No chamado “Camp Fire”, as crianças correm enquanto entoam hinos da Polícia Militar fluminense, batem continência para soldados com fuzis na mão, fazem flexões com punho no chão, pintam o rosto de camuflado, recebem jatos de mangueira hidráulica nas costas, comem marmitas no chão e fazem faxina em determinadas áreas do 7º batalhão da PM. Além dos acampamentos de treinamento intensivo nas dependências do batalhão, as crianças recebem treinamento toda semana de instrutores do projeto, que não são policiais, no estacionamento do restaurante de Vital. Durante os treinamentos, há simulações de situações de primeiros socorros. Em uma das fotos publicadas pelo projeto na rede social, uma criança negra está deitada com um líquido vermelho no peito e na boca. O projeto foi idealizado pela servidora pública da Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo Clara Ferreira e, inicialmente, tinha o nome de “Guardião Mirim”. Crianças eram instruídas por bombeiros civis em cuidados de primeiros socorros, salvamentos marítimos e prevenção e combate de incêndios. Em novembro de 2022, contudo, o “Guardião Mirim” deixou de existir e nasceu o “Praça Mirim”, que desde o início tem Vital como financiador. “O Guardião Mirim aconteceu no ano passado, porém não tivemos muitas crianças interessadas para dar continuidade, mas os instrutores do Praça Mirim continuam sendo bombeiros civis. Não temos vínculo com a Polícia Militar”, disse Ferreira à coluna. Questionada sobre a presença de policiais militares nos vídeos do projeto, Ferreira disse que não existe “parceria”, apenas “apoio”. Afirmou ainda que o 7º Batalhão da PM fornece espaços para realização de eventos e alguns soldados participam dos acampamentos.